Lucas Perri foi revelado pelo São Paulo

Desde adolescente o goleiro já curtia os movimentos dos grandes nomes da posição, neste ano ele pode ver o resultado do próprio trabalho nos melhores momentos do Brasileirão. As grandes defesas e o fato de ser o goleiro com mais jogos sem tomar gol na Série A (13), inclusive, catapultaram o camisa 1 do Botafogo para a seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa.
Mais jovem, Perri se mostrou um goleiro promissor. Acumulou convocações para as seleções de base, mas não teve espaço no profissional do São Paulo. Precisou exercitar a paciência com empréstimos até virar um “paredão” de respeito no líder do Brasileiro. Em entrevista ao UOL, ele conta como foi essa construção até vestir a camisa amarela.
Falta de oportunidades no São Paulo: “O São Paulo sempre teve goleiros muito qualificados e, quando subi ao profissional, estava no momento deles de jogar. Aliado a isso, tem a convicção do treinador”.
Chegada ao Botafogo: “Estava no Náutico, fazendo bom jogos. Começaram a ter conversas para chegar próximo ao final do contrato com o São Paulo. Apareceu o Botafogo, que apresentou um projeto. Fiquei muito empolgado”.
Ponto da virada para o Brasileirão: “A eliminação do Carioca foi muito forte. Foi um momento de muita reflexão, embora o nosso time só tenha perdido um jogo. Não nos classificamos e acredito que foi um momento que nos uniu”.
Fase ruim do Bota no começo de 2023: “Tivemos essa dificuldade em relação ao gramado do Nilton Santos, que estava em obra. Passamos primeiro semestre viajando para fazer jogos que seriam em casa”.
A falha contra o Inter: “Foi um momento que nem entendi o que aconteceu, mas o apoio da torcida foi muito importante, porque mostra o momento que o Botafogo tem vivido. Todo goleiro vai errar, é uma coisa que acontece”.
Seria Perri o melhor goleiro do Brasil no momento, como gritam torcedores e até os colegas de time?
Isso eu deixo para a imprensa. Da minha parte, tenho de ir para casa, descansar muito, voltar, trabalhar para fazer o melhor para o Botafogo. Não é uma coisa que passa pela minha cabeça. Assisto a muitos vídeos dos demais e acredito que a quantidade de goleiros jogando em alto nível é absurda. Fábio, Cássio, Weverton, todos os goleiros do Brasil estão numa fase muito boa
Você já imaginava na base que você seria um goleiro de projeção nacional?
Perri: Sou apaixonado por futebol, pela minha posição e acho que isso ajudou. Claro que, quando você é adolescente, sai de casa em busca desse sonho, de viver do futebol, mas nunca imagina o que pode acontecer. Quando eu comecei a ser convocado para a seleção [sub-17], fiquei muito feliz, mas demorou um pouco para cair a ficha, porque o profissional ainda é uma coisa muito distante. O que eu estou vivendo hoje é um sonho de criança.
Como é que você fazia para se alimentar desse “vício” pela posição?
Perri: É uma coisa que eu levo comigo. Em casa, gosto muito de estudar sobre goleiros. Tem muito material na internet. Desde sempre, fui muito fissurado em estudar tudo o que envolvia goleiro, muito vídeo, de goleiros europeus e brasileiros. Assistia aos jogos sempre focado no goleiro.
E quem é que estava no topo da playlist?
Perri: Vários, mas a partir do momento que eu comecei a levar mais a sério o futebol, eu acho que o Manuel Neuer, que estava em plena ascensão. Tinha acabado de chegar ao Bayern de Munique, fez uma Champions 2012-2013 sensacional e foi campeão da Copa 2014. Acho que foi o que marcou a minha geração.
O vídeo se aplica no contexto atual da preparação de goleiros do Botafogo?
Perri: Claro. Temos muitos vídeos dos jogos que a gente vem fazendo, o trabalho de correção, o que foi feito da maneira correta, o que poderia melhorar. Conversamos muito, tanto assistindo aos nossos jogos, como aos do Brasileiro e de vários goleiros de fora. Posso falar do Onana (Manchester United), do Diogo Costa (Porto), do goleiro do Milan, o Mike Maignan.
Como é que foi seu início no futebol, chegando à base do São Paulo depois de passar pela Ponte Preta?
Perri: Comecei a jogar futebol muito cedo, com 4 anos, nos clubes da cidade de Valinhos. Foi uma progressão natural, todo mundo ia fazer teste na Ponte Preta ou no Guarani. Na Ponte, passei e fiquei 3 anos e 8 meses, até ir para o São Paulo.
A que você atribui essa diferença do seu protagonismo na base do São Paulo em relação a essa dificuldade de ter espaço no profissional?
Perri: É uma coisa muito relacionada ao tempo de cada goleiro. O São Paulo sempre teve goleiros muito qualificados e, quando subi ao profissional, estava no momento deles de jogar. Aliado a isso, tem a convicção do treinador. Fiquei bastante tempo, aprendi muito, e, infelizmente, o meu tempo de ter sequência acabou não chegando. Foi por isso que busquei um clube em que eu pudesse jogar e o Náutico abriu as portas.
Mas você chegou a ficar seis meses no Crystal Palace, né?
Perri: Esse período que eu pude passar lá foi uma experiência gigantesca, não só como atleta, mas como pessoa. Saí totalmente da zona de conforto, fui para um outro continente, uma outra língua. Foi muito desafiador e pude conviver em um ambiente diferente, isso aí abriu minha cabeça.
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