Rogério Ceni deixou no ar se continua ou não no São Paulo em 2022. Nesta segunda-feira, logo depois da vitória por 3 a 1 sobre o Juventude, que assegurou a permanência do time na Série A do Brasileirão, o técnico do Tricolor se esquivou nas perguntas que tratavam da próxima temporada.

— É um alívio o que foi feito hoje, mas o São Paulo merece muito mais do que passar um ano como foi o de 2021. Eu não tenho planos para 2022. Nós temos mais três dias aqui ainda. E 2022 fica para frente — declarou Rogério Ceni.
— Sou muito agradecido por ter voltado. Foi o único clube que aceitei voltar. Sou muito grato a todo torcedor, sempre me recebeu super bem. A torcida foi exemplar. Quarenta mil por jogo, praticamente. Só tenho agradecimentos a fazer. Às pessoas que trabalhei aqui, nesses cinquenta dias, mais ou menos. Nem sei, são tantas noites mal dormidas — acrescentou.
O alívio de Rogério Ceni vem depois de livrar o São Paulo de qualquer chance de queda. Com o treinador, o time chegou aos 48 pontos e ainda assegurou uma vaga na próxima edição da Sul-Americana. O ex-goleiro não escondeu o quanto ficou mais leve com o resultado positivo.
— Uma coisa é você cair, outra coisa é ser rebaixado com o time que você deixou a vida toda trabalhando nele. É diferente quando se tem um vínculo. Sabia da situação difícil, não imaginava que era tão complicada, mas eu só aceitei vir porque era o São Paulo. Sinto como se fosse minha casa. Não é o lugar onde o São Paulo deve estar — desabafou.
O São Paulo se despede do Brasileirão de 2021 na quinta-feira, a partir das 21h30 (de Brasília), diante do América-MG, no Independência, em Belo Horizonte.
Confira mais respostas de Rogério Ceni:
Luciano ligado é exemplo para os outros?
— Cada um tem sua característica e compreendo. Quero agradecer, desde já, aos profissionais que trabalhei aqui nesses dias. Não é fácil viver uma situação como essa. Em 2013 passamos por uma situação de dificuldade, em 2017 também, mas saímos mais rápidos. Este ano de dificuldade serve como alerta.
— O Luciano ficou um tempo parado, decidimos ontem que ele iria jogar. Teve a boa vontade de vir participar do jogo, foi importante pela maneira que se comportou no jogo, não só pelo gol, flutuou bastante, tem facilidade de fazer a ligação entre meio e ataque. Ficou enquanto tinha condições físicas, mas foi importante no dia de hoje, sim.
Reação da torcida após o término. Foi a principal responsável pela permanência?
— Acho que sim. A torcida foi o combustível desse time no Morumbi. De 12 jogos, vencemos cinco, quatro com eles aqui, dois empates e a derrota para o Flamengo, que lamentamos muito. Apesar desse vexame que passamos, o torcedor não desistiu do clube, pela história e paixão. Somos muito gratos pelos torcedores que vieram nos apoiar, foram nosso combustível para manter os ânimos altos.
— Eles cantaram o tempo todo, só deixaram para o último minuto para passar a perspectiva do que acham. É direito de expressão. A visão que eles têm deve ser respeitada, mas é de se ressaltar que em todos os jogos, ganhando ou perdendo, cantaram até o fim. Meu agradecimento sincero pelo torcedor que carregou um time que não entregou o que ele esperava durante o ano.
Liziero
— Tenho total confiança nele. O Nestor entrou bem quando jogou, gostei dele na função, então optei por ele na maioria dos jogos. Mas o Liziero teve uma sequência boa comigo no começo. Hoje, com a ausência do Sara, eu precisava de um outro volante e escolhi ele para começar o jogo. É tecnicamente capacitado, tem bom passe, não é marcador, e ajudou dentro do que era possível, não só hoje.
Conta com Pablo?
— Eu não falo da próxima temporada. Essa ainda não acabou. Quero trabalhar até quinta-feira para encerrar essa temporada.
Torcedor pode sonhar com o que?
— Torcedor pode sonhar com tudo. A gente vive de sonhos. Voltar para o São Paulo em um momento de dificuldade e poder retribuir, de alguma maneira, o que vivi durante 25 anos. Eu sei que, talvez, não achem muito o que foi feito, mas sei como a equipe se encontrava quando chegamos aqui. Era obrigação não deixar essa equipe cair. Vencemos cinco jogos de 12, onde a equipe havia jogado 25 e vencido seis, então foi importante para ajudar de alguma maneira.
— Sou grato por esse convite, voltar para minha casa e, de alguma maneira, retribuir ajudando a não passar uma vergonha que seria gigantesca, pela primeira vez na história não estar disputando a Série A.
Sentimento de viver isso no São Paulo?
— Fico triste, para ser sincero. Não é como eu vejo a história do clube, a vida que eu passei aqui, ídolos que levaram o São Paulo a grandes conquistar. É um momento de baixa. Um momento que é preciso ter cabeça tranquila, um planejamento melhor para 2022. Claro que esbarra nas dificuldades financeiras, como falamos, mas temos outros clubes com as mesmas dificuldades, fizeram grandes contratações e conseguiram levar seus times a lugares inesperados em meio de campeonato.
— Tem muito são-paulino que quer ver o bem desse clube, tem muito são-paulino que tem condição de ajudar de alguma maneira o clube, e é o que eu torço. A minha parte eu tentei fazer. Sabia do tamanho do risco que corria vindo para cá, mas não tinha como recusar. Por isso sofri tanto esses dias, foram noites e noites sem dormir. Não era só um rebaixamento. Quando você vê gente que trabalhou com você a vida toda sofrendo, é muito triste. Tristeza é a palavra que define esse momento.
O que falta para ser constante?
— Não foi uma partida brilhante. Não é o tipo de futebol que gosto, eu gosto mais de jogar com a bola no chão. Hoje demos muitos chutões, quebramos bola para frente durante o primeiro tempo todo, então acho que nesse quesito há muitas coisas para melhorar. Quem saber 2022 seja um ano melhor. Não sei te responder o motivo de ser um time tão inconstante, não consegui encontrar essa resposta desde que cheguei.
Fica em 2022?
— Eu vou viver 2021. Temos uma possibilidade, mesmo que remota e com jogadores suspensos. O América também tem, é um dos concorrentes, claro que nossa situação não é favorável, mas temos como obrigação lutar pela vitória e tentar ultrapassar a barreira dos 50 pontos.
Ausências para o próximo jogo
— O Arboleda tem um jogo aéreo fantástico, é um cara bacana de se conviver e ajuda muito em campo. Mas nós temos o Bruno, Diego, Léo que pode fazer essa função. Não sei como o Miranda está, vem de uma sequência muito grande. Temos o Neves para jogar na função do Liziero, já que o Sara não deve estar pronto. Já o Luciano não temos como substituir, não temos jogadores com a mesma característica que eles. Torcer para Calleri e Rigoni estarem bem, e pensarmos em uma opção para essa função.
Time de hoje é o time-base?
— Não consigo te responder isso, mas o time não jogou um belíssimo futebol. Como alguém perguntou antes, eu acho que foi um time que competiu bastante hoje. Não é o modelo que gosto. Você vê os outros jogos, times com pontas que definem no um contra um. Os que estão aqui são todos capacitados e bons profissionais, mas o São Paulo precisa de equilíbrio, mais jogadores em funções que não existem hoje no clube. Se não você vai ficar tocando a bola, dependendo de uma infiltração sempre, já que raramente tem o um contra um. Para isso o São Paulo precisa se preocupar para o ano que vem. Jogadores dessa função.
— A diretoria vai saber o que mais necessita, já tem uma noção boa no decorrer do ano. Eles têm mais experiência no clube neste ano, os últimos doze meses no clube.
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